segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Era Uma Vez Um Alfabeto. Jeffers Está de Volta!


Alfabetos há muitos. Uns menos convencionais do que outros. Munari, Sendak, Quentin Blake e tantos outros não resistiram a alfabetizar... Edward Gorey, o mestre do nonsense, deixou-nos um legado fabuloso de várias e incríveis histórias sobre as 26 letras do alfabeto.




Oliver Jeffers não fez por menos e decidiu passar a ocupar um lugar de relevo na História dos Alfabetos. 26 histórias para 26 letras. O brilhante Era Uma Vez Um Alfabeto, Pequenas Histórias com todas as Letras, chegou recentemente a Portugal, pela mão da Orfeu Negro. 


São mais de 100 páginas com histórias curtas e imaginativas que viajam de A a Z. Excêntricas, estranhas, tontas, contraditórias, loucas, de puro nonsense... ou nem por isso.  Em comum, têm a característica de nos levar por caminhos hilariantes. Revelador de grande originalidade, o que mais nos encanta neste livro, é a forma delicada e criativa com que Jeffers subverte!


Há histórias que se cruzam, histórias que entram noutras histórias, enigmas que só  algumas histórias depois são resolvidos... Há um humor intertextual  que nos permite encontrar personagens já nossas conhecidas de outros livros do autor a passearem por algumas páginas... E há, sobretudo, uma humor inteligente que percorre todo o livro.


Há histórias que se lêem e relêem. Muitas vezes. Procura-se a certificação de que o final é mesmo aquele. E quando assim é, o riso é o resultado inevitável. Povoado de monstros, robôs e outros seres absolutamente singulares, este é um livro que contém doses de suspense, de perplexidade e  de humor que o tornam absolutamente genial.


O que pode haver de mais cativante  para os pequenos leitores que se estreiam nesta viagem pelo alfabeto, do que  começar com um paradoxo? O A é de astronauta. Não um qualquer, mas Edmundo que morria de medo das alturas. Descobrir a solução para os problemas de Edmundo exige percorrer as páginas até à letra Z...


O C fica por conta de uma caneca que, farta de viver num armário escuro e frio, um dia decidiu arriscar, acabando, claro está, em cacos. Porque aqui não há concessões fáceis, há inevitabilidades. A caneca volta a reaparecer algumas histórias depois, devidamente colada e certamente resgatada pelos dois especialistas em salvamento que coabitam no livro. Mas porque há coisas inevitáveis, quase a terminar a viagem, o leitor volta a vê-la em cacos.


Com uma magnífica capa cor de laranja vivo, o interior do livro acaba por se revelar surpreendente. Cada letra, desenhada como só Jeffers sabe, e a respectiva história são introduzidas por uma página colorida. Mas os desenhos das histórias exibem-se, a cada página, em tons pretos e cinzas, apenas com um ou outro apontamento de cor. 


Esse é, sem dúvida, um forte contributo para que a memória de Gorey não nos abandone ao longo da viagem. Mas não o único. Há páginas onde texto e  ilustração parecem resultar numa verdadeira combinação goreyniana.  É assim, por exemplo, com o H, Habitação de Alto Risco. É a história de Helena, que habitava a metade de uma casa. A outra metade, tinha caído ao mar, durante um furacão, há ano e meio. Por ser preguiçosa, e não ter um martelo, a Helena não tratara ainda de arranjá-la. A Helena nunca tivera problemas até  ao terrível e horrível dia em que rebolou para o outro lado da cama.


Brilhante e irresistível, é um luxo que já se passeie por cá!  Agradecer à Orfeu Negro por isso, nunca será demais. É uma das nossas escolhas e sugestões para este ano, para o próximo, para sempre que decidirem oferecer um livro de excelência aos miúdos! 

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